Zelensky avisa: presença em Moscou pode ter consequências

Manuela Becker Berto

5/5/20252 min ler

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, declarou recentemente que não poderá

garantir a segurança de líderes estrangeiros que decidirem comparecer às celebrações do Dia

da Vitória na Rússia, marcadas para o próximo 9 de maio. A data, que marca a derrota da

Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial, é uma das mais importantes para a memória

histórica e a narrativa oficial do Estado russo. A fala de Zelensky, embora não contenha

ameaças diretas, foi lida por diversos analistas como um alerta velado diante da continuidade

da guerra entre Rússia e Ucrânia. Entre os chefes de Estado convidados para o evento, está o

presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva.

A reação de Moscou à declaração ucraniana foi imediata e dura. Porta-vozes do governo

russo classificaram Zelensky como “covarde”, “traidor” e “colaboracionista”, em uma

tentativa de deslegitimar não apenas sua fala, mas também sua autoridade política e moral.

Esse episódio reflete o grau de tensão atual entre os dois países e evidencia como atos

tradicionalmente simbólicos, como participar de uma cerimônia oficial, passaram a ser

interpretados como posicionamentos estratégicos no contexto do conflito.

A possível participação de Lula e de outros líderes internacionais no desfile do Dia da Vitória

coloca em evidência a delicada posição de países que têm buscado manter uma postura de

neutralidade ou de mediação diante da guerra. O Brasil, por exemplo, tem defendido uma

solução diplomática para o conflito, ao mesmo tempo em que evita adotar sanções unilaterais

contra Moscou e mantém canais abertos de diálogo com os dois lados. No entanto, a escolha

de comparecer (ou não) ao evento em Moscou pode gerar consequências diplomáticas

significativas. A presença de um líder estrangeiro ao lado de Vladimir Putin, em meio a um

conflito ativo e a múltiplas acusações internacionais contra a Rússia, incluindo violações do

direito internacional e crimes de guerra, pode ser interpretada como um gesto de tolerância ou

até de apoio indireto ao Kremlin. Por outro lado, a ausência pode ser vista como uma ruptura

ou afastamento político.

Esse dilema ilustra os desafios enfrentados por países do Sul Global que, ao buscarem maior

protagonismo internacional, precisam equilibrar interesses estratégicos, valores diplomáticos

e reputação externa. A guerra na Ucrânia tornou-se um campo onde gestos simbólicos têm

grande peso, e onde a política externa é constantemente colocada à prova, inclusive em

ocasiões tradicionalmente comemorativas