Venezuela mantém eleições em Esseequibo

Conflito territorial com Guiana se intensifica na região

POLÍTICA

Arthur Nasario

5/5/20252 min ler

Mariela López/Anadolu vía Getty Images

A Venezuela rejeitou nesta sexta-feira (2) a ordem da Corte Internacional de Justiça (CIJ), órgão judicial da Organização das Nações Unidas (ONU), que determinava a suspensão das eleições marcadas para 25 de maio na região do Essequibo, território disputado com a Guiana. A decisão da Corte buscava impedir a realização do pleito eleitoral em uma área rica em recursos naturais, especialmente petróleo, que é objeto de uma controvérsia centenária entre os dois países sul-americanos.

A disputa sobre o Essequibo remonta ao período colonial e envolve cerca de 160 mil km² de

território ao oeste da Guiana. Em 1899, um arbitramento internacional concedeu a maior

parte da região à Guiana Britânica, atual Guiana, mas a Venezuela nunca reconheceu

plenamente essa decisão, alegando que o processo foi viciado. O país sustenta que o Acordo

de Genebra de 1966 estabelece a necessidade de negociações diretas para resolver a questão,

o que até hoje não ocorreu. Nos últimos anos, a descoberta de grandes reservas petrolíferas na

região, exploradas principalmente pela ExxonMobil, reacendeu as tensões entre Caracas e

Georgetown, aumentando o interesse estratégico e econômico sobre o território.

Em abril, a Guiana levou o caso à Corte Internacional de Justiça, solicitando que a Venezuela

suspendesse qualquer atividade eleitoral ou administrativa no Essequibo até que o tribunal se

pronunciasse definitivamente sobre a soberania do território. A CIJ acatou parcialmente o

pedido e emitiu uma ordem para que a Venezuela suspendesse as eleições previstas para o

final de maio. No entanto, o governo venezuelano, por meio do Ministério das Relações

Exteriores, divulgou um comunicado oficial rejeitando a ordem da Corte. Caracas argumenta

que não reconhece a jurisdição da CIJ sobre o caso e que a decisão representa uma

interferência indevida em seus assuntos internos e em sua soberania nacional. O texto afirma

que a Venezuela seguirá com a realização das eleições na região, incluindo a nomeação de

autoridades locais, como o governador do território do Essequibo, pela primeira vez. O

Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) já designou o almirante Neil Villamizar para

o cargo.

A Guiana, por sua vez, reafirmou a legitimidade da decisão da CIJ e advertiu que qualquer

autoridade venezuelana ou apoiador identificado no Essequibo poderá ser detido e acusado de

traição. O governo guianense também descartou negociações bilaterais com a Venezuela,

defendendo que a disputa seja resolvida exclusivamente pela via judicial internacional. A

comunidade internacional acompanha o desenrolar do conflito com preocupação, dado o

potencial militar e a importância estratégica da região para a estabilidade e segurança na

América do Sul.

Com a Venezuela desafiando abertamente a decisão da Corte Internacional de Justiça e

avançando com as eleições no Essequibo, o impasse entre os dois países tende a se

aprofundar. A Guiana mantém sua postura de buscar uma solução pacífica e legal por meio

da CIJ, enquanto Caracas reafirma sua reivindicação histórica sobre o território e promete

defender seus interesses a qualquer custo. A expectativa é que a Corte Internacional de

Justiça emita uma decisão final sobre a soberania da região nos próximos anos, mas até lá, a

tensão entre Venezuela e Guiana deve continuar.