Crise entre França e Argélia se agrava com expulsão mútua de diplomatas

Brenda Soares Ribeiro

4/20/20252 min ler

A crise diplomática entre França e Argélia ganhou novos contornos com a decisão de ambos os países de expulsarem 12 funcionários consulares um do outro. A escalada de tensões marca um novo capítulo em uma relação historicamente complexa, moldada por séculos de colonização e disputas políticas contemporâneas.

Na terça-feira (22), o governo francês ordenou o retorno imediato de seu embaixador em

Argel e anunciou a expulsão de 12 agentes consulares argelinos. A medida foi uma

resposta direta à decisão argelina, tomada na véspera, de expulsar 12 funcionários

franceses, citando a detenção de um diplomata argelino em território francês, supostamente

envolvido em um caso de sequestro.

Em comunicado oficial, o Palácio do Eliseu classificou a decisão da Argélia como

"injustificada" e "incompreensível", sublinhando que os diplomatas franceses já haviam deixado o país na manhã de terça-feira.

Causas profundas e contexto histórico

Para analistas, o episódio reflete não apenas atritos recentes, mas também uma tensão

estrutural de longa data. Victor Pereira, historiador especializado em migrações, avalia que

"motivos eleitoralistas em França e políticos na Argélia" alimentam a crise atual. Segundo

ele, as raízes do desentendimento remontam ao passado colonial francês, cuja herança

continua a afetar as relações bilaterais.

Após meses de deterioração no diálogo, sinais de reconciliação haviam surgido no início

deste mês de abril. Os presidentes Emmanuel Macron e Abdelmadjid Tebboune chegaram a

conversar por telefone em março, em gesto visto como um esforço para normalizar a

relação. Na sequência, o ministro francês das Relações Exteriores, Jean-Noël Barrot, visitou

Argel, reforçando a intenção de aproximação.

Contudo, o recente episódio mostra que o desconforto entre as partes persiste — e se

intensifica.

Segurança, imigração e rivalidades regionais

As tensões recentes também têm sido alimentadas por divergências sobre imigração e

segurança. A gestão de imigrantes argelinos na França se tornou um tema sensível,

especialmente após o atentado em fevereiro na cidade de Mulhouse, no leste francês,

cometido por um cidadão argelino radicalizado. Além disso, a prisão de influenciadores

argelinos na França, acusados de fazer apologia à violência, gerou novos atritos.

Fontes diplomáticas indicam ainda que muitos dos funcionários franceses expulsos

pertenciam ao Ministério do Interior, chefiado por Bruno Retailleau — político conservador

conhecido por seu discurso rígido sobre imigração e segurança e potencial adversário de

Macron na eleição presidencial. Argel acusa Retailleau de ter articulado a detenção do

diplomata argelino e de agir para sabotar os esforços de reaproximação do Palácio do

Eliseu.O mal-estar entre os dois países se aprofundou ainda mais desde julho do ano passado,

quando Macron iniciou uma reorientação estratégica nas relações exteriores da França,

com foco maior no Marrocos, tradicional rival da Argélia no Magrebe.

Com a nova troca de acusações e expulsões diplomáticas, especialistas avaliam que a

perspectiva de normalização das relações entre Paris e Argel torna-se cada vez mais

remota. A crise, que combina elementos históricos, políticos e geopolíticos, promete testar

novamente os limites da diplomacia entre os dois países.

Fonte: AFP - LUDOVIC MARIN